A chegada de um filho muda a relação do casal
Quem acha que filho pode salvar um casamento, nunca esteve tão errado
Desde que minha filha nasceu, muito do conteúdo nas caixinhas do Instagram passou a ser direcionado aos assuntos de parentalidade.
Não é um assunto que eu puxo de propósito, mas a quantidade de perguntas que chegam nessa direção, acabam tomando boa parte do conteúdo das caixinhas.
Na última semana, me fizeram uma pergunta que acho muito pertinente, e que depois de ser pai, consigo enxergar a resposta com bastante facilidade.
“Por que você acha que casais que se davam bem, se separam depois que um filho chega?”
Eu e a Mari nos damos muito bem. Nunca brigamos por nada e sempre tivemos a maior paciência do mundo com o outro.
Mesmo assim, aconteceram inúmeros pontos de atrito nos primeiros meses da aninha em casa.
Lá pelos primeiros meses, eu já falava pra Mari: o casal que não estiver muito bem da cabeça não resiste isso aqui junto.
Mas o fato é que ter um filho restringe sua liberdade radicalmente.
Inúmeras coisas que você fazia antes e com bastante tranquilidade, agora são esmagadas em janelas de tempo bizarramente curtas.
A mãe normalmente fica em casa, de licença maternidade e carrega o fardo do cuidado quase sempre sozinha. De tomar uma água, até fazer coco, tudo se torna uma tarefa muito mais complicada.
O pai volta a trabalhar uma semana depois e sente o peso de performar como profissional porque não pode ser demitido, ainda mais agora que o sustento da criança depende ele, mas também precisa estar presente quando está em casa, aliviando a barra da esposa que está exausta.
Ela sente que ele não entende o quanto é exaustivo passar o dia cuidando de um bebê, mesmo sendo em casa e que a pouca ajuda que ele consegue dar.
Ele sente que ela não valoriza o esforço dele, que passou o dia inteiro trabalhando e recebeu um bebê no colo assim que entrou em casa.
Os dois vão ficando cada vez mais hostis entre si. Ele passa a enrolar no trabalho e fazer mais horas extras só para fugir do estresse que virou a casa.
Ela vai exigindo, de forma casa vez mais incisiva, que ele seja participativo nas tarefas quando está casa. Para ela conseguir respirar um pouco e cuidar das suas necessidades mais básicas.
Ninguém tá certo e ninguém tá errado, só não conseguem encontrar o ponto de equilíbrio onde existe uma criança no meio desse estresse e que, antes de tudo, eles são um casal.
Recebi um monte de críticas por DM no Instagram quando disse, antes da aninha nascer, que minha prioridade era deixar a Mari tranquila. Ou então, quando eu repetia que antes de ser pai da aninha, eu sou marido da Mariana.
Minha prioridade é cuidar da minha esposa. — se eu faço isso, minha filha estará bem cuidada.
Mas foi assim que a gente conseguiu, até com muita tranquilidade, superar os atritos que apareceram no caminho.
Minha régua sempre foi: o que vai fazer a vida da Mari mais tranquila?
Todo resto deriva disso.
A mãe cansada tem produção de leite reduzida, o estresse é transferido para o bebê através dos hormônios, até a percepção de gostar ou não da própria filha é afetada por isso.
E com a criança sendo tão demandante, a mãe tem pouco tempo para a manutenção da própria saúde mental e física.
Ela já vai sofrer um enorme desgaste quando tudo correr bem, imagine com problemas extras?
Por isso, meu foco nunca foi pensar no cuidado da aninha, mas sempre em poupar a mari do desgaste para que ela esteja mais tranquila e a gente seja mais feliz como casal.
A consequência disso é uma filha também mais feliz e tranquila — a criança se regula pelo ambiente.
No fim, eu sei que sempre serei pai da aninha e que não vou deixar de amar minha filha — ou até pelo menos até ela falar que não gosta de treinar Jiu-jitsu aos 15 anos.
Mas ser marido da Mariana não é garantido pra sempre. É uma batalha que preciso lutar todos os dias para que continue sendo verdade
No instante em que eu remover esse pilar, toda a estrutura desmorona.
Depois de postar essas respostas, recebi incontáveis mensagens de pessoas que se identificaram com o relato.
Pensando sobre os comentários, para mim fica claro que boa parte dos problemas acontecem quando o marido acaba negligenciando sua parte nos cuidados com sua esposa, sem considerar o desgaste de passar 24 horas com um filho grudado no colo.
Pode soar meio frio, falar assim, mas é um sentimento que boa parte das mães acaba sentindo, mas não estão confortáveis em se expressar.
O julgamento em cima das mães é muito duro. Qualquer posição que não seja do amor incondicional de mãe e doação acaba sendo julgado como se fosse uma mãe ruim.
Assim, vemos milhões de mães sofrendo em silêncio, sem poder dizer que gostariam de ter um tempo para respirar, tomar um banho e ir ao banheiro com calma.
Como mencionei, existe sim uma pressão em cima do marido, principalmente para conciliar o trabalho e a vida parental quando volta para casa.
O que não pode acontecer, é se deixar levar nessa pressão e abrir mão exatamente da parte mais importante que é o cuidado com a filha e a família.
Avisos
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Eu conheço umas mães que se sentiram realmente mal pq ficavam muito cansadas e não se sentiam MÃES só pq queriam fazer xixi em paz.